Norte: Episódio #1
Gosta de uma boa roadtrip? A mítica Estrada Nacional 2 aguarda-o. Durante os meses de julho, agosto e setembro, embarque numa viagem que atravessa um Portugal interior, de Norte a Sul. Doze episódios, doze viagens. Muitas maravilhas, uma certeza: a monotonia não passa por aqui. A aventura começa agora, rumo a Chaves, Vila Pouca de Aguiar, Vila Real e Santa Marta de Penaguião.
Publicado em 28 de Julho de 2022 em 14:50 | Por Cofina Boost Content
Espera-nos uma viagem de 739 quilómetros, cuja meta será cortada na cidade de Faro. Como impõe a tradição, começámos no início (passe-se a redundância), junto ao marco que assinala o Quilómetro Zero, na rotunda vizinha ao Jardim Público de Chaves.
Chaves é a capital do Alto Tâmega, pertencente à região do Norte e ao Distrito de Vila Real. Presente num local de encantos ancestrais, é limitado a Norte pela Galiza, a leste pelo município de Vinhais, a sudeste por Valpaços e Vila Pouca de Aguiar e a oeste por Boticas e Montalegre. Visitar a cidade é começar com o pé direito. E a barriga cheia com um delicioso Pastel de Chaves - quem diz um, diz quantos lhe apetecer, bem justificados com o muito que aqui vai poder explorar.
Atravesse o rio Tâmega pela Ponte Romana de Trajano, uma obra notável de engenharia e mítico legado do império Aquae Flaviae, em direção àquelas que são a joia da coroa da cidade: as Termas Medicinais Romanas e ao seu Museu. Reza a história que as legiões romanas, após as suas incursões bélicas, recuperavam forças e tratavam as maleitas do corpo e da alma nas suas águas ferventes. A visita a este grandioso património arqueológico proporciona uma experiência única e é um bom ponto de partida para conhecer esta cidade acolhedora onde, dois mil anos depois dos romanos, continua a ser possível experienciar o prazer regenerador de um banho termal.
Depois, há os castelos. E muito por onde escolher: o Castelo e a Torre de Santo Estevão, Castelo Monforte de Rio Livre e, sobretudo, o Castelo de Chaves - onde é imperativo subir à Torre da Menagem e sentir a história que se faz viva a cada visita.
Igrejas, capelas e santuários dignos do seu olhar, são muitos. Na impossibilidade de rumar a todos, não vai querer perder a Igreja da Misericórdia. Mesmo no coração histórico de Chaves é marcada por uma exuberante estética barroca. As paredes revestidas com azulejos do século XVIII e as pinturas no teto são merecedoras de contemplação.
Prova que tradição e modernidade caminham a par e passo, o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, obra ímpar de prestígio mundial com a assinatura de Siza Vieira, é lugar de fruição cultural por excelência. Moderno, único e belíssimo, tanto no interior como no exterior, homenageia a obra e a genialidade do flaviense pintor.
Também a gastronomia da região convida a momentos inesquecíveis. Na Marisqueira “O Príncipe”, além das carnes, destacam-se o arroz de marisco, as parrilhadas e muito mais, com o que há de mais fresco, sempre feito na altura e num ambiente envolvente. Uma referência gastronómica com paragem obrigatória. Chaves tem muito que se lhe diga, que se veja e que se coma. Delicie-se com os vários cortes de carne da Barrosã, da posta transmontana à rabadilha. Com o presunto de Chaves, os fumeiros e os enchidos que sabem ainda melhor acompanhados com pão de centeio cozido em forno a lenha. E leve para a viagem o famoso folar de Chaves.
Carimbado o passaporte em Chaves, seguimos em direção a Vila Pouca de Aguiar. Pelo caminho, surpreenda-se.
Por entre paisagens incrustadas nas graciosas montanhas envolventes, ao quilómetro 19 chegamos a Vidago - outrora destino da realeza e fidalguia em busca das milagrosas águas, hoje um refúgio de repouso e cura, mas também de diversão e turismo. O convidativo Vidago Palace Hotel é digno de uma visita, mas pode desfrutar da preciosa água no Parque de Vidago, onde a natureza homenageia todos os que por lá passam. Ao quilómetro 30, paragem em Pedras Salgadas. Também de águas termais bebe esta terra, nas fontes do Parque Termal de Pedras Salgadas, um dos mais belos parques do interior de Portugal capaz de nos elevar ao mais puro estado de bem-estar.
Encaixada entre as serras do Alvão e a Padrela surge a capital do granito e porta de entrada para a região do Alto Tâmega: Vila Pouca de Aguiar. Aqui a mensagem é clara: não deixe de visitar a Lagoa do Alvão (também conhecida como Barragem da Falperra) que protege habitats naturais ameaçados, e o Castelo de Aguiar, cujas origens remontam aos séculos IX/X. Apoiado numa imensa fraga granítica, do miradouro avista uma ampla panorâmica sobre o Vale de Aguiar. Mas espere! Não se vá embora sem provar os incontornáveis produtos tradicionais, como a castanha, o mel ou os cogumelos.
Direção apontada no mapa. Mais vale desligar o Google Maps que continuará a insistir que há caminhos mais curtos para chegar ao destino. Não queremos.
Ladeada pelas serras do Marão e do Alvão e banhada pelos rios Corgo e Cabril, Vila Real surge ao quilómetro 64. Nas aldeias vinhateiras do Alto Douro o tempo ainda passa devagar e as paisagens naturais da região são únicas. Mas impõe-se fazer uma escolha, nada fácil por sinal.
Os passadiços do rio Corgo proporcionam agradáveis passeios e levam à descoberta das escarpas deste rio que atravessa a cidade num perfeito vale. Pode iniciar a visita entrando na Vila Velha - jardim de lazer que foi berço da cidade - ou na ponte metálica.
Apaixone-se pelas Cascatas de Fisgas de Ermelo e pelas paradisíacas lagoas. Encante-se com a fauna e a flora locais, feita de bosques, plantações exóticas e plantas raras. Tudo isto no Parque Natural do Alvão, uma área protegida entre os concelhos de Mondim de Basto e Vila Real.
A faustosa natureza continua no Jardim Botânico da Universidade de Trás-os-Montes, parte de um vasto conjunto arquitectónico-paisagista que conta com cerca de mil espécies vivas.
Das muitas igrejas, faça uma paragem na Sé de Vila Real, um ícone da arquitetura gótica em Trás-os-Montes, e na Igreja de São Pedro.
No que toca à gastronomia local, o difícil será não comer de tudo um pouco: vitela e cabrito assado, carne maronesa, tripas aos molhos, covilhetes, cristas de galo ou pitos de Santa Luzia. Dizia Miguel Torga que este era um Reino Maravilhoso. E é. Prosseguimos viagem.
Luís Machado, presidente da Câmara Municipal, convida todos a “virem a Santa Marta de Penaguião, para se divertirem e para serem felizes.”
Não há penaguiense que não conheça esta lenda: “um tal Conde de Guillon, tendo invadido estas terras, mandou queimar a capela de Santa Marta. A Santa apareceu-lhe ditando o castigo: que plantasse uma vinha, e cuidasse dela. Ainda amedrontado, destapou os olhos e reparou que tinha um grande corvo a seus pés. O conde arrependido, cumpriu a dura penitência, mas ficou cheio de alegria na hora da vindima, porque nunca tinha produzido nada na vida. Lembrou-se então de oferecer à Santa as uvas, fruto do seu trabalho. E foi assim que foi perdoado”.
Situada na Região Demarcada do Douro e rodeada pela beleza das encostas, a profundidade dos vales, a imponência do Marão e pelos socalcos e vinhas a perder de vista, Santa Marta de Penaguião pede para ser fruída serena e alegremente.
No centro do concelho encontra-se o marco comemorativo da criação da Associação de Municípios da Rota da Nacional 2 (AMREN2) que integra mais de três dezenas de municípios. Para Luís Machado, Presidente da AMREN2 e Presidente da Câmara Municipal de Santa Marta de Penaguião, motivos não faltam para a visitar: “Desde logo, o Alto Douro Vinhateiro, património mundial da Humanidade reconhecido pela UNESCO, e a Serra do Marão. Uma serra que corta as correntes marítimas e faz com que o Douro seja um vinho maduro, e não um vinho verde como nos outros concelhos. Temos uma gastronomia duriense diferente e quatro excelentes miradouros”. E a receção calorosa dos penaguienses, claro.
Aqui termina o nosso primeiro episódio, mas a viagem pela Estrada Nacional 2 está prestes a continuar. De alma cheia, retemperamos forças para partir em direção ao Peso da Régua e Lamego. Até lá!