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Uma viagem
por um
Portugal
inesquecível

Embarque numa viagem em 12 episódios pelos 739 km da Nacional 2, a estrada que atravessa o território e desafia à descoberta.

De Vila Nova de Poiares a Góis

Vila Nova de Poiares

Centro: Episódio #6

De Vila Nova de Poiares a Góis

Partir à descoberta do nosso património ou fazer um roteiro gastronómico. Explorar tradições ou optar por uma jornada contemplativa. Cada viagem é única e encerra uma história exclusiva. O programa "Nacional 2 - mais que uma estrada" vem dar o mote para que cada um a possa percorrer, conhecer e viver à sua medida. No sexto episódio, a mítica estrada volta a reafirmar-se como a montra do melhor que o país tem para oferecer. Venha descobrir Vila Nova de Poaires, Lousã e Góis.


Publicado em 31 de Agosto de 2022 em 09:00 | Por Cofina Boost Content

km 248

Vila Nova de Poiares é amor à primeira vista

O ponto mais ocidental da Nacional 2 conta uma história que vem de muito longe. Em terras da Chanfana, o desenvolvimento não renega os encantos naturais nem as tradições de sempre.

Recomeçamos a nossa viagem e o olhar alcança belíssimas paisagens. Já vimos tantas maravilhas, que custa a crer haver ainda tanto por descobrir. Mas há. Curva após curva, reta após reta, ao quilómetro 242 entramos no município de Vila Nova de Poiares, o qual, bem no centro do distrito, marca a fronteira entre o litoral e o interior do país.

Nos mais pequenos recantos lêem-se detalhes de antigas lendas, tradições e dos povos que por aqui passaram. Os vestígios do seu povoamento remontam ao período Neolítico, como evidencia o Dólmen de S. Pedro Dias, localizado na serra com o mesmo nome. Os romanos também deixaram a sua marca (aqui passavam importantes vias militares), bem como os muçulmanos. Já mais tarde, os seus caminhos eram percorridos por peregrinos e viajantes, sendo a Albergaria de Poiares referida desde 1258. Hoje, a tradição ainda é o que era. Nas festas e romarias do Concelho, os usos e costumes continuam a transmitir-se com alegria. Como os visitantes são todos bem recebidos, ou não fosse a simpatia dos poiarenses uma das suas riquezas, porque não reservar já uns dias de agosto do próximo ano para fazer a festa com eles?

A inovação e o desenvolvimento económico aqui reside um dos maiores parques industriais da região , harmoniza com a natureza, os costumes, o artesanato e a velha arte da pastorícia de criação de gado caprino.

A vila espraia-se na planura, entre serras e montes, e é refrescada por três rios Mondego, Alva e Ceira. Depois de um passeio pelas ruas e de conversas com os locais, fomos convidados a visitar um monumento nacional: o Mosteiro de Santa Maria de Lorvão. Este importante mosteiro, originalmente masculino e um dos mais antigos da Europa, foi centro de produção de manuscritos iluminados no século XII. Mais tarde, deu lugar a um mosteiro feminino da Ordem de Cister quando a Beata Teresa de Portugal, depois de ter tido três filhos com Afonso IX de Leão, viu o matrimónio ser anulado pelo Papa por consanguinidade. Foi o “desgosto de amor” que a fez regressar e viver no mosteiro até à sua morte. Entre os tesouros que aqui pode encontrar, estão os túmulos de prata de Santa Teresa e Santa Sancha, netas de D. Afonso Henriques.

Há que aproveitar para provar os Pastéis de Lorvão, um dos doces conventuais mais afamados da zona. Como, por estas bandas, a gastronomia tem muito que se lhe diga, e ainda mais que “se lhe coma”, prove a Chanfana, o Arroz de Bucho de Poiares e os Poiaritos. Do Mosteiro de Lorvão avançámos por caminhos florestais até à Garganta do Cabril da Ceira. Este acidente geográfico natural, onde o rio Ceira é atravessado por um longo e alto desfiladeiro que culmina numa piscina de águas cristalinas, é um prodígio da natureza e um dos paraísos perdidos de Portugal.

De regresso à estrada, aproveitámos para tomar um café e carimbar o Passaporte da Estrada Nacional 2. Apesar da fama desta estrada ser relativamente recente, o seu traçado funde-se com a história de Portugal, pois muitos dos seus troços já faziam parte das principais vias romanas que atravessavam a Lusitânia. Com o passar dos anos surgiram novas ligações para transportar os bens essenciais de norte a sul do interior do país e, no final do século XIX, denominava-se Estrada Real. Portugal não seria o que é sem a Estrada Nacional 2, tal como ficou designada desde 1945.

km 261

Lousã tem muitos encantos

Praias fluviais, gastronomia, monumentos, aldeias de Xisto, a fauna e a flora. Há tantos motivos para visitar a Lousã e a sua serra.

Quilómetro 260. Chegada: Lousã. Um município cheio de história e potencial natural que tem vindo a consolidar-se como destino turístico de referência. A poucos quilómetros do centro, destaque para o Castelo de Lousã ou de Arouce, guardião de muitas memórias. Reza uma antiga lenda que, aquando da ocupação muçulmana, o castelo terá sido erguido pelo emir Arunce para proteger a sua filha Peralta e os seus tesouros depois de ter sido derrotado e expulso de Conimbriga. Certo é que o castelo, classificado como Munumento Nacional, foi ocupado pelos muçulmanos, mas voltou para a posse do Condado Portucalense com D. Afonso Henriques. Hoje funciona como Centro de Interpretação e Acolhimento que, além de facultar informação sobre o monumento, também fornece informações turísticas sobre o Concelho.

Perto do castelo, fomos desafiados a visitar a Praia Fluvial Senhora da Piedade (quilómetro 267) integrada no deslumbrante Complexo da Senhora da Piedade ex-libris do município que, além do castelo e da praia fluvial, integra as Ermidas e o Santuário Mariano.

Este território emergente na impressionante serra da Lousã, habitat natural de muitas espécies de animais selvagens e de uma flora heterogénea, é o ponto de partida e de chegada de muitos percursos pedestres que o ligam a outro elemento identitário do concelho: as Aldeias de Xisto. Não havendo tempo para conhecer todas, a escolhida foi a Aldeia da Cerdeira, abrigada num vale, com pouco mais de vinte casas primorosamente restauradas e vencedora do Prémio Nacional de Turismo, na categoria de Turismo Autêntico. Ao chegar, desvanecem todos os resquícios da azáfama citadina para ceder aos encantos das cores, cheiros, sons do entorno natural e do acolhimento das gentes locais.

Se o paraíso existe, provavelmente é aqui. Não muito longe, rendemo-nos ao panorama privilegiado que o Miradouro de Nossa Senhora da Piedade proporciona, onde aproveitámos para refletir sobre a importância das operações de reflorestação, preocupação que partilhamos com o CEO da Earth Consulters, David Magalhães: especialmente ativa na preservação do meio ambiente, em 2017 “a Earth Consulters resolveu criar uma parceria com a Quercus, associação nacional de proteção de florestas. Ao longo dos anos temos tido uma série de reflorestações nos pontos mais variados do país Caperrosa, Tondela, Vila Real, Mondim de Basto e isso enche-nos de orgulho (…). Desta forma, ajudamos a compensar a pegada ecológica que é criada”.

E depois? Nada como deixar-se perder no centro histórico da Lousã, com as suas casas brasonadas. Visitar o Museu Etnográfico Dr. Louzã Henriques, um edifício de três andares onde é possível aprofundar o conhecimento através de uma narrativa museográfica de utensílios e profissões que falam do passado desta região e do nosso país. E desfrutar dos sabores únicos da gastronomia local num restaurante bem conhecido dos lousanenses nos últimos 33 anos: o Casa Velha. Como quem sabe, sabe, limitamo-nos a seguir a sugestão de uma das proprietárias, Márcia Costa, e o resultado foi um manjar que ficará para a história pelo menos da que o saborearam: Pataniscas com Arroz de Feijão, Cabrito à Moda da Casa e a típica Chanfana de Cabra Velha.

Com o corpo e a alma em festa, deixamos a Lousã, sem abandonar o traçado sinuoso do percurso.

km 270

Góis, a capital do Ceira

"Cinco léguas ao Nascente de Coimbra, em um tão profundo vale situado entre as terras do Rabadão e Carvalhal, está fundada a Vila de Góis, banhada pelo Rio Ceira, em cujas correntes se acha bastante ouro e se pescam boas trutas".
(Padre António Carvalho da Costa, 1708)

Apenas dez quilómetros depois, Góis é de paragem obrigatória (quilómetro 270). Aquela que é considerada a “Capital do Ceira” foi fundada na Idade Média, mas tem vestígios de ocupação pré-histórica e romana.

Entre o rio e a montanha, com uma geografia muito acidentada a par de um enquadramento rural e natural de suma beleza, visitar Góis é uma sucessão de surpresas e de encantos. Além dos percursos pedestres, é conhecida dos motards daqui e d’além fronteiras devido à Concentração Internacional de Motos que se realiza anualmente.

A pureza das suas praias fluviais enquadradas em paisagens de sonho é mais um chamariz para os visitantes. Localizadas mesmo no centro histórico e unidas pelo cinematográfico Passadiço do Ceira, deixámo-nos deslumbrar com a Praia Fluvial da Peneda, e o seu irresistível areal no meio do rio Ceira, e a Praia Fluvial do Pego Escuro.

Sobre o mesmo rio e perto destas praias, encontramos a quinhentista Ponte Real, um dos ex-libris do concelho e da vila, observando as armas nacionais, a cruz de Cristo e a esfera armilar na sua estrutura, bem como os três arcos que a constituem. À entrada da ponte, eleva-se a Capela do Mártir de S. Sebastião que data do século XVIII.

Ir a Góis sem visitar as aldeias de Xisto - pelo menos algumas, como optamos por fazer vai saber a pouco. Isto porque as quatro aldeias de xisto de Góis (Comareira, Aigra Nova, Aigra Velha, Pena) estão entre as mais bonitas da Serra da Lousã. Nada como perambular pelas suas ruas, por entre casas cuja cobertura ainda é inteiramente feita com este mineral regional, para sentir o pulsar deste assombro quase intocado pelo tempo, onde a tradição e os saberes estão vivos e de boa saúde.

E se o corpo pedir descanso, é só ir até à famosa Praia Fluvial das Canaveias.

Há muito mais para ver, nesta terra onde as horas teimam em passar devagar. Se tiver tempo, passeie nos cénicos Passadiços do Cerro da Candosa, que acompanham o curso do rio com o mesmo nome e desfrute de um dos maiores tesouros do centro de Portugal: a Garganta do Cabril da Ceira com panoramas que enchem todas as medidas.

Para adoçar a partida, leve as típicas Gamelinhas.

Mais um episódio, mais uma viagem pelo interior de Portugal. Não temos dúvidas que quem faz a Nacional 2, a leva o país no coração. Para já, levamos os 17 municípios por onde passámos, certos que há muita aventura à nossa espera. No próximo episódio estaremos em Pedrógão Grande, Vila de Rei e Sertã. Na sua companhia.